Símbolos Ocultos em Portas e Janelas Brasileiras: A Resistência dos Adinkra

Os Adinkra são muito mais do que simples figuras decorativas. Originários da África Ocidental, esses símbolos carregam significados profundos, representando valores, provérbios, histórias e tradições dos povos Akan, especialmente os Gyaaman e Ashanti, que habitavam a região da atual Gana. No Brasil, sua influência é visível em portões, janelas, adereços e até grafismos em roupas e tatuagens, ainda que muitas vezes não se reconheça a origem dessas figuras.

Antes da colonização europeia no século XVII, os povos Akan utilizavam os símbolos Adinkra para comunicar ideias e preservar ensinamentos. Esses símbolos eram estampados em tecidos, peças de madeira e metais preciosos, sendo inicialmente exclusivos da realeza e líderes espirituais, usados em cerimônias e rituais importantes. Cada símbolo tem um nome e um significado, muitas vezes ligados à filosofia, à natureza ou a fatos históricos.

O nome “Adinkra” tem origem em um episódio histórico: Nana Kofi Adinkra, rei dos Gyaaman, criou uma réplica do banco de ouro dos Ashanti, símbolo sagrado de poder. Após ser derrotado em batalha pelo imperador Nana Osei Bonsu, sua derrota ficou associada ao termo “Adinkra”, que significa “adeus” ou “despedida”.

Com o tráfico transatlântico de pessoas escravizadas, os Adinkra chegaram ao Brasil. Os africanos trazidos ao país eram habilidosos em diversas técnicas, como serralheria, e utilizaram os símbolos como forma de resistência cultural. Esses ideogramas foram integrados a grades, portões e janelas, especialmente em regiões como Salvador e São Luís, mas também em outras cidades, como São Paulo.

Entre os símbolos, o Sankofa é o mais reconhecido. Representado por um pássaro olhando para trás ou pela forma de um coração estilizado, ele carrega a mensagem: 

É um lembrete da importância de aprender com o passado para construir o futuro e da busca pela valorização da herança cultural.

Atualmente, os símbolos Adinkra são uma ponte entre o passado e o presente. Eles aparecem em penteados, cerâmicas, logos, tatuagens e até na moda, mantendo viva uma tradição que resiste há séculos. 

Além de sua beleza estética, os Adinkra representam a riqueza cultural da diáspora africana e são uma oportunidade de ensinar sobre a história e a cultura afro-brasileira, como propõe a Lei 10.639/03.

A próxima vez que você passar por um portão com detalhes em ferro ou vir grafismos em roupas, preste atenção: talvez esteja diante de um Adinkra, carregado de história e significado.