O Beijo do Vampiro: A Novela que Foi Ligada a um Crime Real
A novela O Beijo do Vampiro, exibida pela Globo em 2002, é lembrada por seu sucesso entre o público infantil, mas também por ter sido envolvida em uma polêmica que chamou a atenção da mídia na época. A trama, escrita por Antonio Calmon, trouxe vampiros com uma abordagem leve e humorada, que conquistou as crianças a ponto de popularizar itens temáticos como dentes falsos e álbuns de figurinhas. No entanto, uma acusação inesperada colocou o folhetim no centro de um debate sobre a influência da TV na formação das crianças.
O Caso de Taquaritinga: Acusação Contra a Novela
Em setembro de 2002, na cidade de Taquaritinga, interior de São Paulo, um episódio grave foi atribuído à influência da novela. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, uma criança de apenas três anos disparou acidentalmente contra o próprio pai, um policial de 32 anos, usando uma arma calibre 38 que estava em casa. O projétil perfurou as costas do policial e se alojou em seu braço esquerdo. Ele foi levado para a UTI e, felizmente, sobreviveu.
A mãe do menino afirmou que a criança havia dito que "mataria um vampiro" caso visse um. Ela responsabilizou o programa de TV pelo ocorrido, dizendo que tramas como O Beijo do Vampiro "mexem com a cabeça das crianças".
A polícia local confirmou que o tiro foi disparado pela criança, que conseguiu alcançar a arma deixada em cima da geladeira. Segundo a mãe, o pai não costumava manter a arma carregada, mas se sentia culpado pelo ocorrido.
Resposta da Globo à Acusação
Procurada pela Folha de S. Paulo para comentar o caso, a Globo emitiu uma nota oficial em 6 de setembro de 2002, defendendo-se das acusações e responsabilizando os pais pela situação. A emissora enfatizou que O Beijo do Vampiro era uma obra de ficção com abordagem cômica e destacou que culpar a televisão pelo incidente era "não reconhecer o verdadeiro gesto de irresponsabilidade" ao deixar uma arma acessível a uma criança.
A Secretaria Nacional da Justiça anunciou que revisaria a classificação indicativa da novela, solicitando fitas com os capítulos para avaliar se a exibição na faixa das 19h era apropriada. Na época, a classificação indicativa estava diretamente vinculada ao horário de exibição. Apesar da polêmica, a novela manteve sua classificação e seguiu no ar até abril de 2003.
***
O caso levanta questões importantes sobre a responsabilidade compartilhada entre as famílias e os meios de comunicação. De um lado, destaca-se a necessidade de um controle mais rigoroso sobre o acesso das crianças a armas de fogo. De outro, discute-se o papel das emissoras na criação de conteúdos adequados para públicos jovens.
Embora O Beijo do Vampiro tenha sido um sucesso entre o público infantil, o incidente trouxe à tona um debate sobre o impacto da ficção na percepção das crianças e reforçou a importância do diálogo entre pais, educadores e criadores de conteúdo.