A metáfora do estupro no filme Alien: O Oitavo Passageiro

 

O usuário do twitter Orlando Calheiros fez uma interessante thread que explica a metáfora do estupro no filme Alien: o Oitavo Passageiro:

"Alien é um filme sobre estupro, melhor, estupro de homens e isso nunca foi segredo algum.  O roteirista Dan O’Bannon, autor do filme original fala abertamente disso no documentário The Alien Saga.

I’m not going to go after the women in the audience.... I'm going to attack the men. I am going to put in every image I can think of to make the men in the audience cross their legs.” A arte tecnorganica-erótica do H.R. Giger complementa essa imaginação de maneira perfeita.

A ideia central do roteiro, inclusive emerge da prática da inversão sexual (onde os homens são penetrados por mulheres). Inclusive é fundamental lembrar que os xenomorfos (o nome dos "aliens") são uma espécie composta (literalmente) por fêmeas.


O roteiro leva essa metáfora ao limite, não apenas coloca os homens no lugar de vulnerabilidade corporal (social) das mulheres, faz de seus corpos o alvo de um ser fálico que penetra seus corpos, como os leva a experienciar uma das consequências dessa violência, a gravidez.


O tema da gravidez masculina é importantíssimo na série (ao menos nos momentos em que ela efetivamente pensa, não são todos, infelizmente). Não é de se estranhar que a cena mais memorável de toda a franquia seja, justamente, a de um homem dando à luz.

Alien 1979 - Birth of the first alien in vehicle scene 

Mas a metáfora se desdobra no próprio roteiro e explica, inclusive, o protagonismo feminino em um filme dos anos 1970. O universo do filme (a nave Nostromo) é totalmente masculino, só existem duas mulheres ali e sua voz é deliberadamente preterida pelos homens do filme.


Tanto que existe a piada clássica de que se os homens desse universo tivessem parado um segundo e escutado a Ripley o filme teria só 30 minutos. E isso é deliberado. 

A construção do ambiente machista tem um objetivo central: mostrar ele se desmoronando no segundo ato do filme, quando os homens se percebem vulneráveis (perseguidos pelo ser fálico).

Não é por outro motivo que todas as decisões burras do filme sejam tomadas por homens (desesperados diante da própria vulnerabilidade corporal recém-descoberta).

O protagonismo da personagem Ripley (e de outras mulheres ao longo da série) emerge, justamente, do costume, da ideia de que mulheres convivem com esse tipo de ameaça no seu cotidiano.

Inclusive isso fica expresso em outro tema recorrente da série: a ideia de um conglomerado que busca utilizar (e domesticar) os xenomorfos como armas.

O segundo filme deixa isso bem explícito com a presença dos fuzileiros. Os fuzileiros são a imagem dessa potência "violenta" domestica (até certo nível).

O roteiro se repete, os fuzileiros reproduzem o universo masculino que desaba diante da própria vulnerabilidade. Agem como crianças diante dos seres fálicos que os perseguem, enquanto Ripley e uma menina de nome Rebecca assumem o protagonismo da situação."


Neste podcastpodcast o Orlando Calheiros desenvolve melhor o argumento sobre o filme.

Fonte: https://twitter.com/AnarcoFino/status/1131566129325981697

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