Foto polêmica do Réveillon 2018 que viralizou no Facebook
Foto original no Facebook |
A foto acima, de um menino sem camisa, no mar, durante a queima de fogos do réveillon da Praia de Copacabana, foi postada pelo fotógrafo Lucas Landau no Facebook dia 31 de dezembro de 2017. A fotografia obteve mais de 20 mil curtidas e 8 mil compartilhamentos e virou polêmica pelas diferentes interpretações que os internautas tiveram da imagem.
A seguinte mensagem no post do Facebook acompanha a foto:
"copacabana, 2018
como a foto está sendo bem divulgada, acho válido contextualizar: eu estava a trabalho fotografando as pessoas assistindo aos fogos em copacabana. ele estava lá, como outras pessoas, encantado. perguntei a idade (9) e o nome, mas não ouvi por causa do barulho. como ele estava dentro mar (que estava gelado), acabou ficando distante das pessoas. não sei se estava sozinho ou com família.
essa fotografia abre margem para várias interpretações; todas legítimas, ao meu ver. existe uma verdade, mas nem eu sei qual é. me avisem se descobrirem quem é o menino, por favor."
Os comentários dos internautas foram variados. Muitos elogiaram a sensibilidade do fotógrafo e a beleza da imagem. Um deles diz que a foto é "maravilhosa, triste, intrigante, reveladora e extremamente real". Outra diz esperar que o menino "encantado" da foto esteja fazendo um pedido que um dia se cumprirá. "São sempre muitas histórias dentro de uma história, não é mesmo? Os meus filmes preferidos são assim: folheiam camadas. Sua foto fala do menino, encantado, com frio, talvez (espero que sim) fazendo um pedido que um dia se cumprirá. Sua foto fala de você, do seu encantamento diante do encantado. Sua foto está falando com milhares de corações hoje, está preenchendo nosso dia primeiro com beleza e esperança. Belíssimo trabalho! Bravo!"
Em outro comentário, um homem diz que a imagem retrata perfeitamente o samba-enredo deste ano da escola de samba Beija-Flor: "Vem ver brilhar mais um menino que você abandonou. Oh pátria amada / Por onde andarás??? / Seus filhos já não aguentam mais / Você que não soube cuidar / Você que negou o amor / Vem aprender na Beija-Flor."
Já uma internauta faz um apelo para que parem os estereótipos com as crianças negras. "Sobre essa fotografia do menino na praia, durante o réveillon de Copacabana:
- Não vejo nada demais (e particularmente não achei nem bonita).
Eu vejo uma criança que parou para olhar a queima de fogos no meio de uma festa. Sinceramente, nós temos que parar de achar que todo menino negro e sem camisa está abandonado, triste, sozinho, infeliz e contrastando com a felicidade dos outros.
Temos que parar de achar que todo menino sozinho é criança que vive em situação de rua. Temos que parar de achar um monte de coisas. Inclusive, que é legal expor nossas crianças para a branquitude começar o ano com pena e compaixão de nós.
Ah, por favor né, a gente tem essa mania horrível de reforçar os estereótipos de nossas crianças:
- Que pena!
- É o retrato do Brasil!
- Imagem muito impactante, reforça as desigualdades do país.
Parem! Vocês nem sabem quem é aquele menino. E vocês não querem saber também. Para 2018, menos estereótipos para crianças negras por favor."
Um homem diz que o menino "pode não ser uma criança abandonada. Mas nesta foto representa muito bem os milhões de brasileiros que são. É triste, mas não adianta tentarmos tapar o sol com a peneira. Não mudamos a história ignorando certos fatos".
Fotógrafo encontra menino da foto
"Fotografo profissionalmente há 12 anos; publico fotos na internet desde 2005. Mas mesmo com anos ou mesmo décadas de experiência, nenhum fotógrafo consegue prever que uma imagem vai viralizar. Jamais adivinharia que uma saída (como falamos no jargão do fotojornalismo) para cobrir fogos de artifício fosse gerar tamanha repercussão.
Fui contratado, e pago, obviamente, para documentar os fogos da festa de réveillon em Copacabana. Nos 17 minutos que tive para compor essa história, aconteceu de encontrar uma criança deslumbrada, assistindo ao espetáculo. A pureza dos seus gestos e o encantamento no seu olhar me tocaram.
Sou contador de histórias, por isso, busco criar vínculos com todos os personagens que cruzam o meu caminho. Acredito que apenas com esses laços, com essa troca, é possível documentar a vida de outro ser humano (como tento aprender com as obras de Ed Kashi, Ron Haviv e Lynsey Addario, entre outros).
No entanto, em 17 minutos, infelizmente, não foi possível criar vínculos com todos os personagens — somou-se a isso o fato de que, encerrado o show pirotécnico, eu deveria voltar para casa o mais depressa possível para transmitir o material para a agência, afinal, eu tinha uma encomenda fotográfica para entregar naquela noite.
A foto de uma criança vidrada nos fogos foi compartilhada, a partir das minhas redes sociais, na tarde do primeiro dia de 2018, em uma velocidade assustadora. Fico contente de ver a fotografia cumprindo seu papel enquanto arte: levantando discussões, ensinando, questionando, gerando debates que nos fazem evoluir como sociedade.
Essa é a minha fala: a foto. É assim que me expresso, fotografando. Não acredito ter algo a acrescentar, além do que já contextualizei. Nesse caso em que a fotografia cria vida própria, a opinião do fotógrafo de nada importa. Cada um projeta as suas próprias bagagens quando olha para o menino no réveillon.
O conheci cinco dias depois da nossa vida ter mudado. Conheci também sua mãe. Foi um encontro emocionante em que pudemos criar nossos vínculos, finalmente. Escolhemos manter esse momento privado, assim como a nossa relação. Pedimos que as pessoas e a imprensa compreendam e nos respeitem.
Agradeço imensamente por todas as mensagens carinhosas que recebi. E agradeço às críticas pois me fazem refletir e me ensinam constantemente. Um 2018 de muitos aprendizados e de muita arte que gere debate. Estamos só começando!"